A educação se encontra em diversos lugares, e de alguma forma sempre nos envolvemos com a educação em fases da nossa vida, e a cada dia que passa misturamos a vida com a educação. Se a educação está de certa forma misturada com o nosso estilo de vida, logo não existe uma forma única e nem um único modelo de educação, ela existe em cada povo e em cada cultura, a educação acontece em diversos ambientes e não só no ambiente escolar.
A educação é livre, e existe entre os povos pode se expressar como saber, ideia, crença, trabalho ou como vida. É de fato uma fração dos estilos de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, com o a finalidade de transformar sujeitos e mundos em coisas melhores de acordo com o que se vê nos outros, pois ela existe no imaginário das pessoas e na ideologia dos grupos sociais. Por outro lado, a mesma educação que é vista dessa maneira, na prática, ela pode fazer o contrário do que pensa que faz, ao invés de ensinar, deseducar.
2. QUANDO A ESCOLA É A ALDEIA
Nos locais onde ainda não foi criada algum modelo de ensino formal e centralizado, a educação já existe. Tomando por exemplos os animas que aprendem de dentro para fora usando seus instintos, e acrescenta maneiras de aprender de fora para dentro, com o seu convívio e observação de seu mundo, passando a repetir várias vezes o comportamento da sua espécie por conta própria. Na espécie humana a educação ela vai além de só continuar o trabalho da vida, ela se instala dentro de um domínio de trocas de símbolos, intenções, cultura e de relação de poder. É possível perceber que a educação existe sob várias formas, e de maneiras diferentes parecendo as vezes invisível.
Tudo que se sabe nas tribos, é fruto de convivência e experiências vividas, como é o caso das suas crianças que vê, entende, imita e aprende com a sabedoria que existe na experiência. Dessa forma tudo que é importante para a comunidade que expressa algum tipo de saber, subtende-se que precisa de uma forma de ensinar, porém esse processo de aprender e ensinar tem recebido vários nomes, um deles é a endoculturação que se trata do processo de aquisição pessoal de saber, crença e hábito de uma cultura. Logo a experiência endoculturativa é uma fração da educação.
3. ENTÃO, SURGE A ESCOLA
As sociedades primitivas passaram a dividir o trabalho e o poder, dando origem a hierarquia social, do mesmo modo o saber comum da tribo também se divide, dessa forma se origina uma diferença que contradiz o saber interior afirmado pela comunidade. Então outras categorias de especialidades sociais começam a se formar, como a do saber e a do ensinar a saber, nesse ponto a educação começa a se transformar em ensino, onde surge a pedagogia, a aldeia se reduz a uma simples escola e todos passam a ser visto como educadores.
É possível perceber essa divisão do saber mesmo em sociedades simples, onde alguns aprendem a serem homens, outros a serem mulheres, outros ainda a serem chefes, feiticeiros, artistas, professores e até mesmo escravos. Essa forma de aprendizagem pode ser em um curto período de tempo ou em períodos mais longos, o que se aproxima dos modelos de agências e procedimentos de ensino que temos na cabeça quando pensamos em educação. Porém mesmo com essas mudanças, as formas livre, familiares e comunitárias da educação não podem ser abandonadas.
Até então o espaço educacional mencionado não é o escolar, é simplesmente o lugar de vida e do trabalho, onde pessoas se reúnem. Todavia do mesmo modo que acontece com todas as outras práticas sociais, sobre as quais um dia surgiu um interesse político, a educação aos poucos vai entrando nesse viés e se moldando nesse cenário, perdendo assim sua liberdade e se
limitando em uma escola, virando cativa dos educadores, se tornando uma invenção recente na história de cada um.
4. PEDAGOGOS, MESTRES-ESCOLA E SOFISTAS
Surge nesse contexto os Gregos, que afirmam não existir obra de arte mais perfeita, do que um homem educado. A educação da Grécia caminhava de acordo com a estrutura social de oposição que diferenciava os livres e escravos, os nobres e plebeus, os meninos da elite guerreira e mais tarde da elite togada a qual a educação foi dirigida mesmo sem a existência de escolas. O tempo foi passando e a educação foi sofrendo suas modificações, no século VI a.C., em Atenas, a educação passa por mais uma transformação, servindo agora somente aos cidadãos nobres. Somente quando a democratização da cultura coloca a necessidade da democratização do saber, a educação passa a ser acessada por qualquer menino livre.
Após esse passo abrem-se escolas de primeiras letras, onde o seu estudo é incorporado à educação dos meninos nobres, o que dá origem as escolas de bairro, e nesse ponto surgem os pedagogos onde vimos de um lado o mestre-escola, e artesão-professores, e por outro lado, escravos pedagogos e educadores nobres, de um lado vemos pessoas sendo educadas para o trabalho, e por outro lado vemos pessoas sendo educadas para a vida e o poder que determina a vida social. Esses pedagogos escravos conviviam mais com as crianças do que os próprios pais, educando-os nos preceitos e crenças da cultura da polis.
Agora conseguimos ver a educação com um ideal de reproduzir uma ordem idealmente concebida como perfeita e necessária, que se dá pela transmissão hereditária, das crenças, valores e habilidades que tornavam os homens mais preparados para viver a cidade a que servia. O tempo avança e surge os sofistas que democratizam o ensino superior, tornando-o remunerado, dessa forma só quem podia pagar, poderia ter acesso ao nível de educação proposto. Os sofistas transformam a educação, desvalorizando a busca da verdade e priorizando a qualidade da retórica. Depois disso a educação passa a ser questão do estado, se tornando em fim pública, se tornando o que o autor descreve muito bem: “A educação do homem existe por toda parte e, muito mais do que a escola, é o resultado da ação de todo o meio sociocultural sobre os seus participantes. É o exercício de viver e conviver o que educa. ”
5. A EDUCAÇÃO QUE ROMA FEZ, E O QUE ELA ENSINA
Roma tinha uma filosofia de vida onde o trabalho era entre todos e o saber pertencia a todos, até mesmo os primeiros reis de Roma tinham que ser lavradores da terra. Diferentemente da Grécia, as crianças romanas começam a aprender em sua própria casa com os mais velhos, vivendo uma vida tradicional de camponês, simples e austero, preservando os valores dos seus antepassados. Acreditava que a educação domestica despertava uma consciência moral, fazendo-os crescer como homens capazes de renunciar a si mesmo e viver completamente para a sua comunidade, tendo como seus primeiros educadores os seus próprios pais. Nesse contexto é a família que tem o papel de prolongar o poder de socializar o cidadão através dela.
Saindo do contexto da educação no lar, do lado de fora é observado duas vertentes, uma chamada de oficina de trabalho, para onde eram direcionados os filhos dos escravos, servos e artesões, e o outro lado tínhamos a escola livresca onde recebia os senhores, mediadores e burocratas.
Com o passar do tempo a educação deixa de formar apenas trabalhadores e começa a preparar os guerreiros, funcionários e dirigentes do império romano. Porém o estado romano não toma a seu cargo a tarefa de educar. Somente depois da chegada do cristianismo é que surge por todo o império, a escola pública, que era mantida pelos cofres municipais. A educação escolar vista em Roma, é uma cópia não fiel do modelo dos gregos, que se espalhou por diversas partes do mundo.
6. EDUCAÇÃO: ISTO E AQUILO, E O CONTRÁRIO DE TUDO
A educação começa a ser definida no Brasil, evidenciando o que ela de fato é, e para que serve, obviamente os legisladores, pelo menos teoricamente, vão garantir para toda a nação o que há de melhor a seu respeito, mostrando uma educação idealizada ou a educação através de uma ideologia. Porém do outro lado onde estão os educadores e estudantes, é visto todos dias críticas quanto a prática da educação no país que difere da teoria, a educação nega no cotidiano o que afirma na lei.
Sabemos que no Brasil não há igualdade, e infelizmente a educação acaba se apoiado nessa estrutura classista, resultando em uma educação que não possui os nossos valores culturais. Porém se existe essa diferença entre o que é pensado e o que vivido, também vai haver protestos e cobranças para que seja cumprida no mínimo o que está previsto na lei, a educação deve ser livre e para todos de forma igualitária. Mas sabemos que existe interesses não só econômicos, mas também políticos que se estabelecem sobre a educação. São muitas desavenças, inclusive entre os próprios educadores que compreendem de forma diferente o que vem a ser de fato o ato de ensinar, o que determina e a quem ele serve.
7. PESSOAS “VERSUS” SOCIEDADE: UM DILEMA QUE OCULTA OUTROS
Sempre vai existir uma discursão quando se tenta explicar educação, ensino e escola, anteriormente considerada importante, hoje essa discussão é inútil, a não ser no caso de pensar a educação de uma maneira especifica. Para alguns filósofos a educação vem como um meio de desenvolvimento do potencial do homem, e que está se aperfeiçoando a cada dia através de suas práticas interativas, coletivas que é justamente explicado pela filosofia da educação, e é justamente dessa coletividade que se precisa para poder obter da educação tudo que é preciso para um desenvolvimento individual. Então surge alguns estudiosos que afirmam que o homem educado não se dá de forma individual, é necessário, uma civilização, um meio social para que ele apareça. Porém nem todos conseguem enxergar a educação com esses olhos.
Na visão dos elitizados separados do trabalho produtivo, entende-se a educação como agente transformador da personalidade humana, que se dá através do conselho sistemático e da direção espiritual. Essa crítica procura separar o que de fato é a educação, e o que as pessoas dizem sobre ela. De toda forma ela deve servir ao homem, o tornado melhor, mais educado e fazer com que se desenvolva nele tudo o que tem e que lhe é necessário.
Se observamos essa discursão, notaremos que essa descoberta não surge com os filósofos ou cientistas sociais de hoje, ela vem desde os povos primitivos e de maneira natural. Os índios e os camponeses por exemplo, eles ensinam o que é importante, e tem consciência de que o saber se transmite de um ao outro e que serve para todos. No contexto atual, a educação serve a alguns homens individualmente, segundo Wemer Jaeger, esse pensamento se dá devido ao esquecimento de que a educação é uma prática social.
Vimos anteriormente os exemplos de educação em lugares diferentes. Primeiro a grega, depois a romana, são lugares distintos, porém ambas se preocupavam em formar cidadãos, era de fato uma educação da e para a sociedade. A educação começa a representar algo, e surge nesse universo de ideias puras, com o propósito de purificar o educando do mal da ignorância do saber. Mas adiante vimos o francês Émile Durkheim definir a educação como uma pratica social cuja origem e destino são a sociedade e a cultura, ele revive um assunto que ao poucos foi recolocado na Europa de seu tempo.
É impossível pensar uma educação que não parte da vida real, nem do homem como ele é, e pior ainda pretender que ela trabalhe o corpo e a inteligência de sujeitos soltos, fora de seu contexto social. O que é possível e existe são as exigências sociais de formação de pessoas na sociedade, cada uma em sua cultura, em cada momento de sua história. A educação é inevitavelmente uma pratica social que, por meio das descobertas de tipos de saber, reproduz tipos de sujeitos sociais.
8. SOCIEDADE CONTRA ESTADO: CLASSE E EDUCAÇÃO
Temos agora uma definição de educação, onde podemos dizer que se trata de uma prática social, que visa o desenvolvimento do que pode ser aprendido em cada pessoa de acordo com as necessidades da sociedade onde está inserido. Ela é de fato o resultado da consciência viva duma norma que rege uma comunidade humana.
Uma transformação na forma de conviver, de se organizar socialmente, de se colocar em posições diferentes na sociedade, ocasiona uma modificação na educação. Vivemos nesse modelo social e sabemos que as escolas que tem o papel de educar, não servem ao operário da mesma forma que servem ao engenheiro. Hoje temos a educação como um dos principais meios de transformação social, pois para um mundo que se diz em transformação a educação acaba se tornando um dos recursos de adaptação, e muitos pensam dessa forma. É uma forma diferente de ser a educação, principalmente para os gregos e romanos, ou portugueses e missionários que tentaram educas nossos antepassados durante a colônia.
Quando essas mudanças ocorrem, e as pessoas procuram usar a educação para a adaptação, ela acaba mudando sua proposta, passa a ser uma educação que tem o objetivo de preparar a criança para uma civilização em mudanças, ou melhor ainda podemos dizer que “o rumo e a velocidade das transformações do mundo moderno exigem cada vez mais, de todos os homens, uma constante reciclagem de conhecimentos e uma contínua readaptação a um mundo que, afinal, ainda é sempre o mesmo e já é sempre um outro. ” Logo não é estranho imaginar uma educação que esteja pronta para realizar mudanças na sociedade.
Quando a educação é vista como agente de transformação de estruturas políticas, econômicas ou culturais, sem mesmo se lembrar que a própria é determinada por essa estrutura, nos deparamos com uma utopia pedagógica. Essa visão de educação não é uma novidade, desde as primeiras décadas do século, a educação é associada a mudança. Somente quando os políticos e cientistas começaram a denominar a mudança como um desenvolvimento, percebeu-se que a educação deveria se associar a esse conceito. Antes disso a educação era um direito da pessoa ou como uma exigência da sociedade, mas nunca como um investimento.
A política quando mistura seus interesses com a educação, acaba conceituando-a como investimento, mão-de-obra, preparação para o trabalho entre outros. Nessa sociedade capitalista a educação acabou se transformando em uma estratégia de reorganização de toda a vida social de acordo com os interesses políticos, com a função de gerar multiplicação dos ganhos empresariais. Estamos dentro de uma ordem social regida pelo sistema complexo de produção capitalista, o que parece ser inacreditável faz parte da lógica do modo como a educação existe na sociedade desigual.
9. A ESPERANÇA NA EDUCAÇÃO
A educação tem a vantagem de sobrevier aos sistemas, se em um momento ela serve como reprodutora de desigualdade, em outro ela seve como a criação da igualdade entre os homens. Paulo Freire junto com seus companheiros do Instituto de Desenvolvimento e Ação Cultural, usam a expressão: “Reinventar a educação”, partindo do pressuposto que para se crer na educação é preciso primeiro dessacralizar-la, pois ela existe em toda parte e entre opostos, mas assim como a vida é maior que a forma, a educação é maior que o controle formal que a sobrepuseram.
A esperança da educação consiste em se despertar da ilusão de que todos os seus avanços dependem apenas do desenvolvimento tecnológico, e acreditar que o ato humano de educar existe tanto no trabalho pedagógico que é ensinado na escola, quanto no ato político que luta nas ruas por um outro tipo de escola, para um outro tipo de mundo.
Resumo elaborado a partir de:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues – O que é Educação.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues – O que é Educação.
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